quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Não é apenas mais um homem!

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=137203,NOT


Sentada à beirada do caixão, a mãe. Ao lado dele várias adolescentes, a maioria delas participantes da mesma igreja evangélica(mesmo local onde se vela o corpo) que a mãe do morto.

Na notícia online somente informações evasivas, somente "acredita-se", "ninguém soube", a verdade só no olhar da mãe que parece acreditar que ele não deveria ter seguido aquele caminho, parece pensar que ele teria outra oportunidade.

Em pesquisa realizada pela UERJ, 46% das mortes dos jovens de 12 a 18 anos no Brasil são causadas por armas de fogo.* E ainda é apenas mais um homem. Seria mesmo um homem? 22 anos para nós que convivemos com ele no Bairro Borges em Sabará desde a década de 90. Seria mesmo um homem? O que dá à imprensa a clareza de que ali jazia um homem? A notícia é curta, curta também a distância do corpo até o peito da mãe engasgada, e de nós todos ainda desacreditados.

Temo que as mortes não se tornem luta(ou indignação necessária!), a morte parece causar mais inércia, porque é muito duro saber que se a cada ano morrem tantos, e se diz apenas mais um, nós precisamos fazer coro à voz do teólogo da libertação: "as estatísticas não sangram!"**


Contra a redução da maioridade penal!
Pelo fim do extermínio da juventude pobre, negra e de periferia!
Pela democratização dos meios de comunicação!


Laila, militante da Frente de Juventude-Brigadas Populares(MG)














** Jon Sobrino em: "Fora dos pobres não há salvação"

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Os novos soldados do capitalismo





Por Antonio Martins

Na madrugada de terça-feira, durante o assalto ao acampamento do Occupy Wall Street, a polícia de Nova York adotou métodos primitivos. A entrada da imprensa na área da operação polícial foi vetada. Ydanis Rodriguez, um membro do parlamento local, foi agredido e preso, quando tentava encontrar-se com os manifestantes. Houve mais de 200 prisões, uso generalizado de gás pimenta e golpes de cassetete. Uma biblioteca de 5 mil livros foi atirada a um contêiner de lixo.

Mas estas cenas de brutalidade são apenas um aspecto menor da operação. Notícias publicadas ontem (15/11) nos jornais norte-americanos, e análises de mais fôlego na imprensa alternativa, revelam algo mais grave. Articulou-se nas últimas semanas, nos Estados Unidos, um esforço policial coordenado, com objetivo de suprimir um movimento que, embora tenha sempre agido de modo pacífico, passou a ser encarado como uma ameaça ao status quo. A investida contra o Occupy reflete a militarização das forças de segurança dos EUA, cada vez mais voltadas a identificar e combater “inimigos internos” — e equipadas com sofisticado armamento “high-tech” contra eles.

Embora a decisão de desocupar praças caiba, institucionalmente, aos prefeitos, a ação policial está sendo tramada nacionalmente. Mais de 40 chefes de polícia das cidades em que o Occupy montou acampamentos mantiveram reuniões constantes nas últimas semanas, muitas vezes por meio de videoconferências. O objetivo dos encontros foi trocar informações sobre as formas mais eficazes de promover a desocupação. Pretende-se evitar, sobretudo, episódios constrangedores para as forças da ordem, nos quais a resistência pacífica as obriga a recuar.

O planejamento foi especialmente meticuloso contra o Occupy Wall Street, revelou o New York Times. Houve duas semanas de treinamento, mas os policiais envolvidos não foram informados, em nenhum momento, sobre o alvo e as circunstâncias de sua futura ação. Temia-se a mobilização social. Uma tentativa anterior de esvaziar o acampamento, em 14 de outubro, fracassou porque, informados previamente, os manifestantes conseguiram convocar apoio.

O último treinamento foi feito na noite de segunda-feira, 14/11. Mesmo então, segundo o jornal, não se mencionou o Zucotti Park — ou Praça da Liberdade, como foi rebatizada pelos acampados. Na convocação dos policiais falou-se apenas em “um exercício”. A decisão de atacar o Occupy foi comunicada “apenas no último momento”.

Centenas de agentes foram mobilizados. O momento da operação foi escolhido meticulosamente. Sabia-se, depois de semanas de observação, que na madrugada de segunda para terça-feira o acampamento estaria mais vazio. O parque foi isolado por barreiras de policiais armados com escudos. No momento da desocupação, não era permitido aproximar-se a menos de cem metros do local. Os jornalistas que já estavam na área foram retirados: a polícia alegou que desejava proteger sua “segurança”.

Que leva a polícia de um país que se orgulha de respeitar as liberdades civis a se voltar para a repressão contra protestos pacíficos? Num texto publicado também ontem, no site Alternet, Heather “Digby” Parton, uma blogueira norte-americana premiada pela profundidade de suas análises (publicadas costumeiramente em Hullabaloo), procura as respostas. Ela as encontra, principalmente, no que vê como três décadas de militarização das forças policiais norte-americanas. Primeiro, para enfrentar a chamada “guerra contra as drogas”; mais tarde (a partir do 11 de setembro), para a vigilância interna, adotada a pretexto da “guerra contra o terror”.

Desde 1980, reporta “Digby”, a polícia norte-americana tem sido preparada para assumir um número crescente de atividades de caráter mais tipicamente militar. Esta mudança se expressa em aspectos como o armamento e os uniformes policiais. Equipamentos como os fuzis M-16 e veículos blindados tornaram-se comuns – inclusive em unidades instaladas nos campi universitários.

A partir de 2001, esta tendência assumiu nova dimensão. As forças policiais foram envolvidas na vasta operação do governo Bush para ampliar a vigilância sobre os cidadãos. A lei “Patriot Act”, até hoje em vigor, permitiu violar o sigilo de comunicação e rastrear as operações financeiras. Criado na época, o Departamento de Segurança Interior (Department of Homeland Security) passou a coordenar as ações de espionagem interna. Tornou-se, rapidamente, a terceira maior agência estatal dos EUA. Tem orçamento anual de 55 bilhões de dólares. Horas após o ataque contra Occupy Wall Street, o cineasta Michael Moore lançava, pelo Twitter, uma questão ainda não respondida: terá o departamento participado da operação contra os manifestantes?

Ainda mais importante, introduziu o conceito de “terrorismo doméstico”, orientando as forças da ordem não apenas contra os crimes tradicionais — mas contra um leque amplo e impreciso de atividades, que pode facilmente incluir a oposição política. As consequências foram explicitadas em 2006 por Joseph McNamara, ex-chefe de polícia de San Jose. Ele afirmou que o novo cenário havia produzido “uma ênfase em treinamento paramilitar, que, em contraste com a antiga cultura, sobrepõe-se ao treinamento policial — segundo o qual os policiais não deveriam atirar, exceto para se defender”.

Um dos aspectos mais controversos da nova postura foi a utilização costumeira de armas consideradas “menos-letais”. Digby conta que os teasers (que produzem choques elétricos e podem, em certas circunstâncias, matar) são apenas a ponta de iceberg de um vasto arsenal — utilizado, por enquanto, apenas em situações de treinamento. Ele é inteiramente voltado para a dispersão de protestos. Inclui, por exemplo, o ray gun. Posicionado no alto de um veículo e disparado contra uma manifestação, ele produz, nos que estão à frente, a sensação de um “soco invisível”, que provoca intensa dor e impede de continuar caminhando. Sintomaticamente, foi testado, em exercícios na Geórgia, contra soldados vestidos de manifestantes que portavam cartazes com dizeres como “Paz Mundial”, “Amor para todos” e “Paz, guerra não!”.

Ainda mais espantosos são os planos para desenvolver armas como teasers com alcance de cem metros ou, mesmo, aviões não-tripulados (“drones”) capazes de criar grandes “áreas de exclusão” ao bombardeá-las com dardos virtuais que produzem choques elétricos. (Para descrição das armas, Digby baseou-se numa extensa reportagem de Ando Arike, publicada na revista Harper’s e disponível aqui, em versão pdf).

Ao final de seu texto, Digby debate uma questão política crucial. A militarização da polícia foi impulsionada no período imediatamente posterior aos ataques de 11 de Setembro. Na época, o choque provocado pelo terror e a onda de patriotismo que se seguiu garantiram amplo consenso social em favor das medidas de vigilância. O secretário de Defesa (e depois vice-presidente) Dick Cheney chegou a afirmar que “o Estado precisa tirar suas luvas”.

Este tempo passou. Numa época em que o terrorismo deixou de ser uma ameaça visível e crescem, em contrapartida, os protestos contra a desigualdade, o desemprego e o esvaziamento da democracia, qual será a conduta das forças policiais agora orientadas também contra alvos que podem incluir a dissidência civil, e dotadas de novo armamento? Como elas agirão, se os novos movimentos recusarem-se a receber ordens — que julgam ilegítimas — para refrear seus protestos?

As respostas estão em aberto. O que ocorreu em Nova York em 15/11 não é uma fatalidade, mas serve de alerta. Se a construção de uma sociedade mais justa inclui manter e ampliar as liberdades civis, então será preciso conhecer em profundidade, denunciar e reverter esta nova ameaça de desconstrução da democracia.


http://www.outraspalavras.net/2011/11/16/os-soldados-high-tech-do-sistema/

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

DEMOCRACIA SIM, CACETETE NÃO!


DEMOCRACIA SIM, CACETETE NÃO! Manifestamos nossa solidariedade aos estudantes mobilizados da USP, pois acompanhamos com estarrecimento a truculência policial acobertada por um teatro cínico, hipócrita e distorcido que foi e está sendo promovido pelos grandes meios de comunicação. Sabemos que a reivindicação colocada está no bojo da questão central que estrangula a produção do saber e da crítica nas Universidades brasileiras: A ausência de democracia real. A USP, a exemplo de outras Universidades, é conduzida pela “pequena política” que visa assegurar a reprodução da condição dependente do Brasil, acoplando a produção intelectual e científica aos interesses da tríade “empresa-universidade-estado” comandada pelos países centrais. Sabemos que a superação da “pequena política” passa pela radicalização da democracia. Mais do que o poder de eleger, queremos o poder de depor. Mais do que ampliar a representação, queremos o poder de definir diretamente os rumos da política. Assim, caminharemos na construção da Universidade Necessária reivindicada pelo mestre Darcy Ribeiro. Uma Universidade que dialogue efetivamente com as necessidades e expectativas do povo brasileiro. Fazemos essa reflexão, pois é ampliando nossos horizontes que conseguiremos avançar sobre o estado atual de coisas. A mesma polícia que reprime hoje os estudantes da USP é a que cotidianamente estrangula o povo nas periferias, ocupações urbanas e demais espaços de contradição entre os interesses do capital e os da vida. Prestamos nosso apoio, entendendo que o passo dado atrás na democracia pela tríade “Alkmin-Rodas-polícia” poderá impulsionar estudantes, técnicos e professores a dar dois passos à frente na radicalização da democracia na USP. O que, sem dúvida alguma, gera repercussão por todo Brasil. Saudações de luta! Brigadas Populares São Paulo, 10 de novembro

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Malditos comunistas!



José Roberto Torero (Carta Maior)

Acabaram os jogos Pan-Americanos e mais uma vez ficamos atrás de Cuba. Mais uma vez! Isso não está certo. Este paiseco tem apenas 11 milhões de habitantes e o nosso tem 192 milhões. Só a Grande São Paulo já tem mais gente que aquela ilhota. Quanto à renda per capita, também ganhamos fácil. A deles foi de reles 4,1 mil dólares em 2006. A nossa: 10,2 mil dólares. Pô, se possuímos 17 vezes mais gente do que eles e nossa renda per capita é quase 2,5 vezes maior, temos que ganhar 40 vezes mais medalhas que aqueles comunas. Mas neste Pan eles ganharam 58 ouros e nós, apenas 48. Alguma coisa está errada. Como eles podem ganhar do Brasil, o gigante da América do Sul, a sétima maior economia do mundo? Já sei! É tudo para fazer propaganda comunista. A prova é que, em 1959, ano da revolução, Cuba ficou apenas em oitavo lugar no Pan de Chicago. Doze anos depois, no Pan de Cáli, já estava em segundo lugar. Daí em diante, nunca caiu para terceiro. Nos jogos de Havana, em 1991, conseguiu até ficar em primeiro lugar, ganhando dos EUA por 140 a 130 medalhas de ouro. Sim, é para fazer propaganda do comunismo que os cubanos se esforçam tanto no esporte. E também na saúde (eles têm um médico para cada 169 habitantes, enquanto o Brasil tem um para cada 600) e na educação (a taxa de alfabetização deles é de 99,8%). Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano de Cuba é 0,863, enquanto o nosso é 0,813. Tudo para fazer propaganda comunista! Aliás, eles têm nada menos do que trinta mil propagandistas vermelhos na cultura esportiva. Ou professores de educação física, se você preferir. Isso significa um professor para cada 348 habitantes. E logo haverá mais ainda, porque eles têm oito escolas de Educação Física de nível médio, uma faculdade de cultura física em cada província, um instituto de cultura física a nível nacional e uma Escola Internacional de Educação Física e Desportiva. Há tantos e tão bons técnicos em Cuba que o país chega a exportar alguns. Nas Olimpíadas de Sydney, por um exemplo, havia 36 treinadores cubanos em equipes estrangeiras. E existem tantos professores porque a Educação Física é matéria obrigatória dentro do sistema nacional de educação. Até aí, tudo bem. No Brasil a Educação Física também é obrigatória. A questão é que, se um cubano mostrar certo gosto pelo esporte, pode, gratuitamente, ir para uma das 87 Academias Desportivas Estaduais, para uma das 17 Escolas de Iniciação Desportiva Escolar (EIDE), para uma das 14 Escolas Superiores de Aperfeiçoamento Atlético (ESPA), e, finalmente, para um dos três Centros de Alto Rendimento. Ou seja, se você tiver aptidão para o esporte, vai poder se desenvolver com total apoio do estado. Pô, assim não vale! Do jeito que eles fazem, com escolas para todos, professores especializados e centros de excelência gratuitos, é moleza. Quero ver é eles ganharem tantas medalhas sendo como nós, um país onde a Educação Física nas escolas é, muitas vezes, apenas o horário do futebol para os meninos e da queimada para as meninas. Quero ver é eles ganharem medalhas com apoio estatal pífio, sem massificar o esporte, sem um aperfeiçoamento crescente e planejado. Quero ver é fazer que nem a gente, no improviso. Aí, duvido que eles ganhem de nós. Duvido! Malditos comunistas...

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Alô polícia


Alô Polícia

Império Z/O








Chama a polícia! Uouuuuuu!

No sobe e desce nas biqueiras,
A barca do polícia, sirene acesa uoooou,
Aumenta a estatística, pá, virou isca,
A blazer se apaga na mão da justiça,
Infrator tem que morrer gritando viva ao choque,
Reintegração á sociedade não existe á Conte Lopez,
A rota mata mais que a AIDS e ainda ganha ibope,
Tem Maluf candidato pra assinar os óbitos,
Na idéia de pensar pode ficar esquisito,
SSSSS massaricos, pros, massaricos,
Quem dá bom dia pra vala, toma rajada dos bicos,
Vacilão, então, pensa que é Nego Dico,
O jogo da polícia não é história fictícia,
É diferente do xadrez, vem pro cheque-mate,
Não pensa duas vez nem 1, 2, 3,
Hei, hei, 1, 2, 3, acorda 16,
Dos 3 PMs de hoje 16 virou peneira,
E foram enterrados como 12,
Garante que o batente promove,
E o guarda ganha medalha, morto não fala,
Chico Xavier não trabalhou de farda,
Mó salseiro, mó auê, no DP como treta,
Pele preta na gaveta, promoção do capeta,
Cidadão comum que põe a farda o diabo rege,
Tipo a serpente trocando de pele no Jardim do Éden,
Firmeza, firmão no segundo oitão,
Nem que seja no pau pra interpretação,
Pânico e terror na população,
Homens da lei botam medo muito mais que ladrão,
Ta tudo errado, ta tudo errado,
Os valores do país estão trocados,
Ta tudo errado, ta tudo errado,
Hoje é destemido quem deveria ser respeitado,
Toda ofensiva, com linhas á guiar,
Ou GOE, CIVIL, POLÍCIA MILITAR,
Se ligou, entendeu, precisou,
Alô, alô, ah, é só ligar.

Refrão:
Se chama a polícia eu viro uma onça,
Eu quero matar, pá, pá, pá, pá, pá, pá.

Alô polícia, alô polícia,
Onde é que vocês ta quando o meu povo disca,
Alô polícia, alô polícia,
Não haverá paz se não existe justiça,
Quem é quem, quem é quem, quem?
Quem é do mal, quem é do bem, vem me explicar,
Quem é que rouba e que mata,
007 manda mais um pra desordem,
O corpo apodrece na mata,
Neonazismo incorporado, eu to ligeiro não marco touca,
Vi Adolf Hitler ressuscitado, infiltrado nessa porra,
De quebrada, de viela, nos becos mó goela,
Propina na bocada ou truque na favela,
Então corra, corra da Sodoma e Gomorra,
No país da justiça o PM deu a louca,
Na blitz, no enquadro, o GOE com a doze na mão,
Vi a vida por um fio escorrendo no escadão,
Mas quem não deve não teme,
Não teme, se teme aqui treme,
Trombar na calada o camburão da PM,
Que adota o regime da ditadura,
Método eficaz da polícia é tortura,
Com o Robocop na rua a rota faz seu papel,
Controle remoto na mão, o anjo que caiu do céu,
Planeta Terra em perigo,
Cadê o defensor do fraco e oprimido,
Power Rangers aqui não tem, muito menos Superman,
Mas malfeitor eu to ligado que há mais de cem,
Lex Lutor fardado á paisana também,
Pau no gato, sem massagem, sem carinho neném,
A culpa do governo, uma remuneração,
Má preparação da corporação,
Ao invés de segurança é fábrica de ladrão,
Esquece da casa do pobre, só protege a mansão,
Generalização, não vou ser injusto não,
Tem mano que anda na linha e corre pelo ganha pão,
Corre pela justiça, não faz bico de ladrão,
Aí sentindo calo prossegue na missão,
Aqui ganso não, ladrão também não,
Que a justiça seja feita, hipocrisia não,
Copo cheio, favela de cima, negralha tem o dom,
Jurupita Condomínio mó satisfação.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desde caracol até Dandara







http://www.youtube.com/watch?v=YjtvaqpJ7_s


A cidade de Belo Horizonte; tão bonita, tão famosa, tão propagandeada como um dos "modelos" de administração, tão "perfeita", planejada, não dialoga com a realidade! Belo Horizonte é historicamente(talvez como quase todas as cidades brasileiras, latino americanas!) um palco do conflito entre a urbanização, a industrialização, a acumulação de capitais, os serviços, talvez não exatamente nessa ordem, e a ocupação dos territórios pelos trabalhadores, oriundos do campo, construtores da mesma, e que nela fazem sua história.
Não se pode dizer a partir de agora, muitos conflitos se passaram, muitos foram já expulsos do local que construíram(à revelia do direito constitucional da moradia!), a cidade é hoje, e não nos assustemos se sua gênese é mesmo esta, o local dos interesses privados de pequenos setores!
Entretanto, a cidade também é o local da batalha, dos confrontos, da política! É nela que se centraliza a administração, mas também nela que se coloca o avesso, o não, o contraditório daquilo que se decide em gabinetes, em rodas de negócios. A cidade para! Sim! Mesmo com uma mídia sem voz(ou com a voz da classe dominante), mesmo com a repressão, a cidade estaciona, pois os construtores dela não podem aceitar ficar do lado de fora, à espreita, esperando!
É na cidade que se concentra a produção do saber, a construção da cultura, o acesso(mesmo que negado) e é nela também que se construíram as instituições que privam de liberdade a classe trabalhadora(prisões, manicômios, unidades socioeducativas), e nela também se construiu espaços de dominação do pensamento(escolas, veículos de comunicação, etc).
Porém nessa mesma cidade se concentraram aqueles, únicos possíveis para a transformação dessa ordem! Aqueles que lutam por carregar na mão o destino de ser livre, de ser dono de sua própria história! Para além de ter casa, para além de ter acesso, para além do estômago, mas também com eles!

Foi uma Caracol, é uma Dandara, mas seremos milhões! E não arredamos o pé!

Dandara existe e resiste!


Por uma Reforma Urbana popular e efetiva!
Pela democratização dos meios de comunicação!


Laila, militante da Frente de Juventude das Brigadas Populares, MG












quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Respeito aos trabalhadores"


Questionados os professores do Estado de Minas Gerais sobre o fato de estarem fazendo uma greve política, eles responderam que a greve era pelo salário digno, pelo piso garantido por lei, por direitos de trabalhadores.
Acaso todo ato do ser humano não fosse um ato político, e bem diria o estandarte levantado pelos mesmos professores: "Educar é um ato político".
A ironia maior é ter que provar: sem imprensa, sem notícia, sem lugar na mídia, que o que se quer não é nada mais que um direito garantido, conquistado. Os professores estão conseguindo, mesmo com abstenções, mesmo com mentiras! A cidade foi mais uma vez ocupada e não tem jeito, a cidade é local do conflito! Conflitos de todos os níveis, neste caso, do conflito político! Da batalha das ideias! Acaso assim não fosse o que explicaria milhares de trabalhadores juntos? Como se define o movimento estudantil colocando palavras de ordem juntamente com os professores? Uma voz uníssona de muitos setores, mostrando a possibilidade da unidade pelo que nos é comum: o trabalho. O título é do professor, em greve de fome pelo seu direito ele lembra que "se pudesse falar ao governador pediria respeito não somente aos professores, mas aos trabalhadores"
Os trabalhadores de Minas avançam na contramão da política mau cheirosa, bem lembrada na foto. E ainda temos caminhos a seguir, trabalhadores dos correios e outros mais ainda em greve, nenhum passo atrás! Que a vitória seja mesmo de todos! Todos os trabalhadores e trabalhadores!
Laila, militante da Frente de Juventude das Brigadas Populares.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vândalos, bandidos, criminosos!

por Silvio Caccia Bava

É com essas palavras que a grande imprensa brasileira qualifica as revoltas juvenis de Londres, ecoando o surpreendente discurso do governo inglês, que as tratou como um caso de polícia e os manifestantes como criminosos. Nesta mesma toada estão sendo interpretadas as últimas grandes manifestações da juventude chilena, que saiu às ruas em centenas de milhares de pessoas, enfrentando a polícia com pedras, paus, coquetéis molotov, quebrando vidraças e ateando fogo em veículos.

É um endurecimento sem precedentes. No caso da Inglaterra, nenhuma das questões sociais que levaram esses jovens a um estado de revolta foi considerada. O argumento de transgressão da ordem, da prática de atos criminosos – o foco nos saques de estabelecimentos comerciais que vendem os ícones de consumo como telefones, ipads, computadores, roupas e calçados de grife, no incêndio de veículos – pretende dissociar estes atos do contexto em que ocorrem e criminalizar as manifestações e seus participantes.

Para esse comportamento, a resposta do Estado é a proibição das manifestações públicas, proibição da ocupação de praças, repressão, prisões, intimidação. Chegamos ao cúmulo de ver a justiça inglesa condenar a quatro anos de prisão dois jovens, de 20 e 21 anos, por convocarem através de seus telefones manifestações que, aliás, não ocorreram.

O tratamento dado pelos governos a essas manifestações, por meio da polícia e do judiciário, e a linha editorial dos jornais da grande imprensa, tanto inglesa quanto brasileira, reforça esse tipo de julgamento que associa tais atos a vandalismo, prefiguram tempos mais difíceis e mostram o quanto o sistema político e a grande mídia optaram não pelo diálogo com os manifestantes, mas por uma linha dura que não se dispõe a negociar ou ouvir as demandas que geram essas manifestações.

No caso das ações na Inglaterra, isso ocorre num contexto de crise financeira que envolve todo o continente, com os novos ajustes, dito claramente, cortes nas políticas públicas que todos os governos europeus estão fazendo, num momento em que acabou-se o Estado de bem-estar social e o desemprego cresce, a imigração é criminalizada, as políticas de proteção social cada vez mais se fragilizam. E a população mais pobre, isto é, as maiorias, verão sua existência ainda mais precarizada.

Neste novo cenário é previsível que ocorram por toda a Europa manifestações, como já são registradas em diferentes intensidades, na Grécia, na Espanha, na França, na Inglaterra. E o governo inglês sinaliza que, se houver novos protestos, eles serão reprimidos. Serão estes indícios de como os demais Estados tratarão a questão social?

Tratar essas mobilizações e revoltas juvenis que se espalharam por várias cidades como atos criminosos é negar-lhes o direito ao discurso.

Foi muito parecido o que aconteceu em Paris, em 2005. Estes mesmos jovens negros, moradores dos bairros mais pobres, foram vítimas da ação intimidatória do policiamento ostensivo. Um grupo deles, tentando escapar das humilhações, fugiu de uma abordagem da polícia. Três deles se esconderam em uma área de alta tensão de energia elétrica e morreram eletrocutados ou em decorrência das queimaduras. Esse momento foi a faísca que incendiou um contexto vivido por toda parte. E os jovens se revoltaram contra a morte de três colegas e, por toda a cidade, atearam fogo em 10 mil carros.

Afinal, o que eles querem? Alguém perguntou? Eles precisam quebrar mais para ser ouvidos?

A história das discriminações e violências cotidianas que sofrem esses jovens, pobres, na maioria negros, sem futuro, também não conta na análise dos últimos acontecimentos na Inglaterra. Foi aí, nos bairros mais pobres e precários, que começou a revolta. Aí, justamente em Totenham, onde o governo está cortando 75% das verbas para as políticas sociais para a juventude e endurecendo o policiamento ostensivo.

O que surpreende ainda mais é certa adesão popular a esse discurso de criminalização dos movimentos sociais, esse apoio para tratar como bandidos os participantes das revoltas. Mas para que esse apoio ocorra e as questões sociais sejam ignoradas, é preciso “informar” a opinião pública, papel em que a televisão e os jornais têm enorme importância.

Talvez porque tais revoltas não tenham conseguido expressar sua cara humana, dizer a que vêm, quais são suas demandas, talvez porque os cidadãos desconheçam essas práticas ou tenham lido e ouvido insistentemente os mesmos argumentos, esses jovens estão sendo tratados como criminosos. O governo traça uma linha de segregação e repressão que só pode levar a uma maior polarização da conjuntura. Se a repressão for eficiente agora para desmobilizar os descontentes, ela apenas adia o momento de novas explosões.

Vale nos perguntarmos aonde nos leva esse caminho. Vale nos perguntarmos a quem interessa implantar o domínio do medo. Vale nos perguntarmos que papel tem tido a mídia na formação da opinião pública sobre esses acontecimentos.

Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.


http://diplomatique.uol.com.br/editorial.php?edicao=50











terça-feira, 13 de setembro de 2011

''A polícia do Rio é a que mais mata no mundo''




Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

Vera Malaguti Batista é secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia, embora esclareça que tem uma formação “mais social que judicial”. Esteve na Argentina para encerrar a 9ª Conferência sobre Política de Drogas, organizada pela associação Intercambios en
Congreso. Ali analisou os fenômenos midiáticos vinculados ao
narcotráfico, à intromissão militar nas favelas cariocas e à situação
carcerária.

Este último tema a motivou, junto com Pedro Viera Abramovay, a editar
um livro chamado Depois do grande encarceramento (Ed. Revan, 2010),
baseado nas colocações de um seminário realizado em 2008 no Rio de
Janeiro, quando de 110.000 presos no Brasil, em 1994, se passou para
500.000 14 anos depois.

Além de socióloga, Vera Malaguti Batista fez seu mestrado em História
Social na Universidade Federal Fluminense e é doutora em Saúde
Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tornou-se
conhecida no ambiente acadêmico do Brasil depois da publicação de uma
pesquisa intitulada O medo na cidade do Rio de Janeiro. Dois tempos de
uma história (Ed. Revan). Ali analisa as diferentes formas de
controlar e disciplinar as massas empobrecidas, comparando o que
ocorria em 1800 e em 1900.

Deste estudo se desprende não apenas a influência dos meios de
comunicação de massa, mas também da Igreja brasileira, que orientou os
medos para consolidar seus interesses, e a utilização do racismo para
intensificar o medo do outro. A autora também assinala a importância
do medo coletivo na construção das sociedades urbanas no Brasil.

Atualmente, Vera Malaguti Batista é professora de criminologia da
Universidade Cândido Mendes e impulsiona uma mudança na legislação
sobre as drogas no Brasil, num momento em que os crimes relacionados
ao narcotráfico estão ficando sempre mais abundantes, como o da juíza
Patrícia Ascioli, morta após condenar policiais que integravam
“esquadrões da morte” no Rio. A desinformação e a contra-informação,
diz, são essenciais para entender o retrocesso e os obstáculos para
implementar políticas de drogas mais humanas e eficazes.

A entrevista é de Emilio Ruchansky e está publicada no jornal
argentino Página/12, 05-09- 2011. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

O que é o Instituto de Criminologia?

É um instituto de pesquisas. Temos uma revista que se chama Discursos
Sediciosos. Crimes, direito e sociedade, onde trabalhamos temas
relacionados com o direito, mas também com a arte.

Vocês têm alguma relação com o Estado?

Nenhuma, somos totalmente independentes.

Como monitoram a incursão do governo carioca nas favelas?

Temos uma avaliação totalmente negativa de uma ocupação bélica das
favelas. É uma estratégia para fazer uma higienização da cidade para
os grandes negócios transnacionais olímpicos e futebolísticos.

Não é uma “pacificação”, como se propala a partir do governo?

Essa palavra no Brasil tem uma história. Eu investiguei o que
aconteceu em torno de 1830, quando o Brasil se tornou independente e
houve um monte de rebeliões, histórias muito lindas, de indígenas, de
escravos. Fiz um livro sobre a chamada Revolta dos Malês, dos escravos
muçulmanos. “Pacificação” é uma expressão militar. Depois desta época
de revoluções republicanas, no sentido radical do termo, as forças
armadas do império brasileiro “pacificaram”. Isso quer dizer que em
lugares como o Estado do Grande Amazonas, que hoje é Amazonas e Pará,
matou-se metade da população. “Pacificação”, para quem conhece a
história do Brasil, equivale a “dominação de território”.

Ou a extermínio...

Sim. Neste momento a polícia do Rio é a que mais mata no mundo. Este
mês estão “comemorando” que houve apenas 800 mortos no ano; há três
anos se chegou a 1.500. Essa é a “pacificação”, uma espécie de Pax
Romana.

Neste momento o Rio é governado pelo PMDB, partido aliado do PT. Qual
é a sua opinião sobre essa gestão no Rio?

O PMDB já existiu durante a ditadura militar. Está onde estão os
negócios. Agora são centro-esquerda, mas em suas fileiras há gente de
centro-direita, é uma mistura. O governo do Rio tem uma agenda
politicamente correta, mas em segurança as UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora) têm uma camuflagem, que é a guerra contra as drogas,
contra o crime, libertar as comunidades dessas máfias... mas por trás,
se pode ver no mapa das comunidades pacificadoras que todas estão ao
redor do Estádio do Maracanã, na zona Sul (Ipanema, Leblon), porque o
Rio ainda tem favelas em áreas ricas; o belo é que é uma cidade
misturada.

Na verdade mora mais gente nas favelas que no perímetro histórico da
cidade. Isso se vê claramente antes de aterrissar no aeroporto
internacional.

Justamente, o caminho desde o aeroporto, ao redor dos grandes
estádios, nas zonas turísticas, tudo foi “pacificado”. Na semana
passada entraram na Mangueira, que é um bairro lindo. O que fizeram?
Entraram com tanques da Marinha e destruíram casas e pequenos negócios
que são a economia local pobre. O município chama estas incursões de
“choque de ordem”, é a política de higienização e o fim da verdadeira
economia desses bairros.

Há alguns anos, os comerciantes pagavam esquadrões para matar os
meninos pobres que andavam pelo centro. Isso voltou a acontecer?

Não, porque agora a polícia mata oficialmente em nome da pacificação e
da guerra contra o narcotráfico. Além disso, os comerciantes estão
tranquilos porque nas favelas pacificadas a polícia militar está
permanecendo. Se você quiser fazer a festa de batizado de seu filho
tem que pedir permissão à polícia militar, é um controle territorial,
intenso e militarizado.

Qual é a situação do baile funk neste contexto?

Está proibido nas comunidades.

Mas é a música mais popular e não só nas favelas.

E nem sempre é violenta, mas às vezes é. Proibi-la faz parte da
demonização das atividades das favelas. Agora há funk oficial, do
governo. Estão cooptando artistas famosos para “o funk do bem”. Como é
uma manifestação cultural de massas no Rio, é um dos objetivos
militares.

O funk carioca nos anos 1970 impulsionava o orgulho negro e também foi
perseguido pela ditadura.

O próprio samba foi criminalizado no começo do século 20! Se você
ouvir os artistas negros perseguidos, como Bezerra da Silva, já
falecido, vai perceber os mesmos olhares sobre as áreas populares, as
mesmas estratégias, só que muda o leitmotiv; antes era o samba ou a
capoeira e agora é o baile funk. Também há a questão sexual.

O baile funk é muito misógino.

Sim... mas há uma questão de certo puritanismo branco brasileiro.

Além disso, esta música fala do orgulho do usuário de drogas.

É a crônica dessa vida oprimida. O proibidão (variante do baile funk)
inclusive é um desafio às investiduras policiais e à política
proibicionista.

O controle da política militar reconfigurou a venda de drogas?

Houve mudanças na venda miúda, mas todos sabemos que o proibicionismo
não acaba coma venda de drogas. Os países mais rígidos são os que
apresentam maior crescimento na produção: Colômbia ou Peru, antes de
(Ollanta) Humala. O Brasil quadruplicou, segundo o último relatório da
ONU, o tráfico de cocaína para fora do continente, como corredor. No
Brasil temos 40 anos de fracasso coma proibição: aumentou a produção,
a comercialização, o consumo, a corrupção da polícia, a violência, de
uma forma tremenda. Para que serve a política de drogas? Os objetivos
que propõe não existem.

Ao mesmo tempo é discriminatória... Notou-se na última marcha mundial
da maconha no Rio e em São Paulo.

Esta va proibida. Meu marido, que é advogado, apresentou um habeas

corpus e conseguimos realizar a marcha no Rio, mas em São Paulo foi
proibida, e com tiros! Mas agora o Supremo Tribunal Federal disse que
não é apologia e legalizou as marchas. Estamos muito atrasados também
devido ao monopólio dos meios de comunicação; não temos jornais como o
Página/12, que é um contraponto ao La Nación e ao Clarín. Creio que a
Argentina, em todos os assuntos, tem uma agenda política vanguardista;
conjuga movimentos políticos populares com causas como o matrimônio
igualitário ou a despenalização da posse de drogas.

Mas no Rio há mais tolerância em certas zonas: fuma-se baseado na
praia, nas ruas. Por que isso não chega à política?

Rosa del Olmo, que foi uma grande professora venezuelana que morreu há
10 anos e desconstruiu nos anos 1970 essa real política norte-
americana, dizia em relação às drogas que houve uma mistura de
desinformação e contra-informação, que produziu uma saturação que é
funcional à ocultação do problema. Você tem uma espécie de massacre
midiático sobre o problema, mas as pessoas não têm informação sobre
indicadores de saúde ou propostas internacionais sobre o tema.

Como isto impacta sobre os usuários de drogas?

No Brasil, o problema não é tanto a criminalização do consumo, que é
questão de classe média e está naturalmente descriminalizado. Quando
jovem, eu vivia no bairro Santa Teresa e agora moro em Ipanema. Em
Ipanema, se alguém fuma, a polícia não faz nada, mas se vem um
vendedor ambulante fumando um baseado vai preso. Atualmente, no
Supremo Tribunal Federal existe uma discussão muito qualificada, tanto
que no voto da sentença pela marcha o juiz Celso de Melo, que é um
jurista liberal, abriu a discussão para o uso terapêutico da maconha.
Mas a opinião pública é monopolizada pelos jornais, pela Rede Globo e
por um contraponto evangélico que é pior ainda: tem sua rede de rádio
e televisão. Eles obstruem a discussão.

O Supremo não diz nada sobre a despenalização do porte de drogas?

Esse assunto não chegou ao Supremo, tem que ser provocado.

As pessoas vão presas, assim que deveria haver expedientes em trâmite.

Sim, mas o problema principal, onde se sangra literalmente, é no ponto
da venda que envolve os pobres. No Brasil, não existe uma
especificação na quantidade de maconha, por exemplo. É uma questão de
interpretação. Eu investiguei mais de mil processos, quando começou
esta política repressiva, entre 1968 e 1978. Se há dois rapazes com a
mesma quantidade de drogas e um é branco de classe média é induzido a
ir a um psicólogo ou ao médico, mas se é pobre e negro e mora na
favela é considerado traficante. Creio que o problema é a demonização
do tráfico, do comerciante minorista. Então, penso que descriminalizar
apenas a posse vai produzir a mesma violência.

Também existem as internações obrigatórias pelo Código Penal, como na
Argentina.

Existem e são inconstitucionais. Na guerra contra as drogas tudo é
permitido: torturas, assassinatos... Criou-se um senso comum tão forte
que quando a polícia entra nas favelas e mata 10 pessoas, eles dizem:
“São 10 traficantes”. E está tudo bem. Insisto em que o nosso problema
é a comercialização, assim como nos países andinos é a produção. Este
tema vai de par com a discussão pela despenalização, que é totalmente
correta e legítima.

Para além do Supremo, que postura tem o governo federal?

O governo da Dilma tem uma Secretaria de Política de Drogas no
Ministério da Justiça. A titular, Paulina do Carmo Arruda, deu uma
entrevista e disse que o crack, que é uma questão terrível,
estatisticamente em saúde pública é um problema irrisório. Quase a
mataram.

Como avalia neste sentido a experiência de Portugal?

Bom, Portugal descriminalizou o consumo. Há dois anos veio de lá a
antropóloga Manuela Ivonne da Cunha, que fez um estudo sobre as
prisões em Portugal e demonstrou que a descriminalização produziu um
aumento na prisão dos africanos que vendem pequenas quantidades.

Nunca um grande narcotraficante...

O mesmo acontece no Brasil, onde não existe um grande negócio de
drogas, é apenas uma categoria fantasmática. É diferente na Colômbia.
O proibicionismo provocou os cartéis, como a máfia durante a lei seca.

Então, você acredita que se deve legalizar as drogas.

É o que dizia Rosa del Olmo: controlar pela legalidade. Até o crack
pode ser controlado legalmente, como acontece com a heroína na Suíça
ou a maconha na Holanda. O nosso modelo deve ser soberano, nosso, de
acordo com os nossos problemas. Outra coisa que diz Del Olmo é que a
agenda da guerra contra as drogas entrou na América Latina antes que
tivéssemos um problema efetivo, estatístico, de saúde, com o uso de
drogas. Será que a guerra produziu o consumo? Até a ditadura militar,
no Brasil existia uma legislação sanitária sobre drogas ilícitas. Na
ditadura entrou o modelo bélico, policial, norte-americano. E também
se massificou o consumo de cocaína.

Atualmente, o Brasil é um porto de saída de cocaína para a Europa.
Poderíamos considerar que esse é o verdadeiro negócio narco.

Um negócio institucionalizado, caso contrário, não aconteceria. É
gracioso, no Brasil sempre dizem “foi preso um grande traficante” e,
no final das contas, é um menino favelado. A realidade é que no
comércio ilícito as pessoas se brutalizam, não apenas elas, a polícia
também se brutaliza, vão se convertendo em matadores de pobres: eles
falam de “autorresistência”, que é uma metáfora para encobrir uma
execução policial. Além disso, se abriu um precedente perigoso: o uso
das forças armadas em funções policiais no caso da pacificação. E o
governo de Lula aprovou isto por lei... resultado: aumentou em 40% o
número de presos por tráfico entre 2003 e agora. No Rio há grupos que
vendem drogas e não negociaram com a polícia, como o Comando Vermelho,
e todas as UPPs vão para áreas do Comando Vermelho. A polícia fica com
o negócio.

Há alguns anos, Fernando Meirelles e José Padilha, diretores de Cidade
de Deus ou Tropa de Elite, garantiram que o usuário é cúmplice do
narcotráfico, deslocando o foco da discussão que deveria ser a reforma
da lei.

O filme Tropa de Elite é uma apologia de uma tortura e a parte dois é
mais perversa ainda. Creio que eles acentuam a culpabilização do
consumidor; discordo deles nesse ponto. Dilma chamou Pedro Abramovay
para trabalhar na Secretaria de Políticas de Drogas e numa entrevista
disse que além de despenalizar a posse, talvez faltava pensar os
traficantes presos sem armas como vítimas do tráfico. Caiu. Dilma o
tirou. Influíram a opinião pública e o medo.

Conhece a Paulo Teixeira? É um deputado federal que propõe a reforma
da lei de drogas em seu país.

Sim, claro. Sofreu um massacre midiático por suas propostas. Tratam-no
de protetor, de narco. Meu marido diz que o discurso sobre os
traficantes é parecido com o religioso, ao de um herege: “Toma a alma
de nossos jovens”. O traficante aparece como alguém que vai à escola e
não como alguém que traz uma mercadoria que outro quer, como no
capitalismo. Eu gosto do capitalismo, mas bom...

Reconhecer o uso é reconhecer o mercado...

Mas aí entra o discurso que você mencionava antes: “Então, a culpa é
do consumidor que produz o mercado”. E começa a demonização do
usuário. É um círculo vicioso, sem objetividade. A guerra contra as
drogas só serviu para aumentar o poder discrecional da polícia, a
venda de armas e a legitimação da truculência contra os pobres, que é
algo histórico da polícia brasileira. Mas quando se pensa em mudar, as
pessoas entram em pânico: “Vão liberar”. “Como vai ser?” E como é
agora? Sabe quantos desaparecidos temos agora no Rio? 5.000 no ano
passado. Parte reaparece vivo... mas parte desses desaparecidos foram
mortos pela guerra contra as drogas.

Quem os faz desaparecer?

A polícia brutalizada que produziu a guerra.

Quantos aparecem?

Não sei, são dados classificados. Temos um observador que diz que os
números da segurança no Rio são torturados. Além disso, quem dirige a
parte de estatística é um coronel do BOPE (Batalhão de Operações
Policiais Especiais). Na semana passada tivemos um caso chocante no
Rio. A polícia entrou numa favela e disparou contra dois meninos: um
foi ferido, o outro morreu e sumiram com o corpo. Esse menino estava
indo à escola. Nas áreas pobres é uma tragédia este modelo de
segurança máxima da UPP.

Tenho entendido que também há paramilitares.

Sim, as chamamos de “milícias”. São policiais que vivem dentro das
favelas, são esquadrões da morte. No começo, os prefeitos do Rio
disseram que eram uma “autodefesa contra o narcotráfico”, e as
permitiram. Depois se expandiram e agora é polícia... contra polícia,
porque as milícias querem ficar com parte do negócio das drogas. Antes
controlavam a venda de gás, os telefonemas ilegais, internet, a
economia informal. São máfia. As autoridades demoraram para se dar
conta disso, até agora que matam policiais. “Fazem hora extra, é
autodefesa contra o narco”, diziam.

Quem financia as milícias?

Elas se autofinanciam. Obrigam a pagar uma taxa de segurança e
proteção. E não se pode denunciá-las porque são policiais. É o segundo
emprego da polícia! Essa é a mistura louca que estamos vivendo no Rio.
Esta semana também mataram um rapaz no morro. Disseram: “Era
traficante”. A família corre para provar que era trabalhador. Se fosse
traficante estaria tudo bem... esse é o problema.

Para a família também?

Às vezes, sim. Essa é a questão perversa. Claro que há lugares onde o
traficante é alguém da favela que mantém uma boa relação, outros são
de outras favelas e dominam o bairro pela força. O traficante não
existe como categoria fixa. Existe um comércio louco, pulverizado,
violento. Mas a polícia militar brutaliza muito os traficantes.

Têm muitos policiais militares presos?

Sim, muitos. Em geral, por assassinatos, e cada dia mais. Por isso,
nem os Estados Unidos deixam que suas forças armadas se metam em
problemas internos.