É guerra agora?
A campanha contra um mísero mosquito; me desculpariam a ironia, mas apontar um canhão para um mosquito soa à um paradoxo, é a bola da vez em Minas. Não se sabe muito bem de onde surgiria uma idéia tão interessante, mas certamente ela vem de um processo não muito original, mas perfeito para uma sociedade em fúria! Ou com muito medo!
Escolher apontar armas, escolher dizer sempre está declarada guerra, guerra ao tráfico, guerra às doenças, e mais e mais, é escolher eliminar um suposto inimigo. Maria Lúcia Karam me permitiria uma alusão: "Quando a gente declara guerra a gente declara o outro inimigo, e o outro deve ser eliminado!" Respeitando aqui todos os processos de lutas por emancipação, todos os processos legítimos de reivindicação, seria absurdo fazer uma campanha pela saúde colocando uma sirene, um fundo vermelho, e uma frase de efeito: Agora é guerra! Talvez a carinha de anjo dos jovens selecionados para pregar os adesivos nos carros nos sinais de trânsito amenize a publicidade! Creio que o canhão, as armas estejam inconscientemente apontadas para as comunidades que guardam seus "lixos" nos porões(aqui lembrando que do luxo do capitalismo, sobrou o lixo para os deserdados do mundo!), ou, como diria hoje cedo o calouro de Educação Física na recepção, na bela construção coletiva no ICB:" O canhão deve estar apontado pra quem está doente né? Assim pra não contaminar mais ninguém?!" Ele fez ótima referência ao estereótipo do inimigo!
Confesso entender pouco de publicidade, confesso uma ironia que admite contrapontos, mas é necessário antes uma subida na ladeira, uma visita à casa do cidadão(creio que poucos ACS das equipes de Saúde da Família compartilhariam com as sirenes e as palavras de guerra!) é preciso adentrar na consciência, aproximar dos cotidianos e promover saúde com outra forma de ver a cidade, a população que a compõe!
* Maria Lúcia Karam em Seminário Jornada de Abstinência e Redução de Danos do CMT aludindo à canhões da marinha(ela disse: "Nunca pensei que a marinha tivesse canhões!") adentrando o Rio de Janeiro,em novembro de 2010
Laila, militante da Frente de Juventude das Brigadas Populares
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