O cotidiano da revolta*
O gênero pede as cotidianidades, elas podem ser muitas, em tempo de tudo pode ser, ou de pode ser o que nos dão na revista, no rádio, na TV! O cantor diria:” Tá na CARAS, ta na capa da revista!” Mas no momento não é pop quem morre, o cotidiano é a violência, e se ela é a crista da onda, na nossa onda ela é divulgada com outras vozes, outros olhares.
Uma mensagem no meu celular, e, já não dou conta da sensação horrível de saber que não posso mais fazer nada(dentro do ônibus, à noite, uma chuva! E além disso um trânsito desgraçado! Se me permite o espaço), já está morto, já há um toque de recolher! Nunca estive num lugar assim, nunca presenciei a terrível cena de não poder me locomover, mas aos quatorze anos presenciei, há alguns metros de mim e de uma amiga, um jovem, um vizinho em Sabará ser assassinado. É impressionante como a bala, o fogo a pólvora nos derrubam com uma rapidez que agride. Éramos, depois do estrondo já não somos. Outro poeta diria: “depois da queda, o coice”, estamos tomando vários nos últimos dias!
Voltando à mensagem, à notícia, em palavras colocadas uma atrás da outra com fúria(ler a notícia de uma morte é muito duro!) de quem esteve bem perto, dizendo do que passou, eu tentando telefonar, nenhum sinal, as operadoras tão “bem intencionadas” pra vender os malditos celulares, nessa hora não nos valem! Os fixos um chiado que não permite que a voz seja entendida, nem mesmo podem saber como está entalada na garganta.
Não houve uma linha, não encontro neles, os jornais virtuais algo que diga daquele morto, daquele povo. Talvez porque aquele povo não tenha se rebelado? Ou o morto seria um troféu? Ou será que não vale a pena uma nota, uma capa? Não! Não vale! O que vale é a verdade de sabermos que alguém sabe, alguém o está enterrando, há por trás desses nossos mortos de todos, de cada dia, noticiários de outras possibilidades. Nós estamos certos de que a coisa muda. Faltam algumas peças, falta saber encaixar o quebra-cabeça da realidade, mas é certo que essas mortes apontam pra alguma vida. A juventude assassinada aponta pra nossa urgência no agir. A hora mensagem a inércia do terror, mas a revolta e a raiva devem ser motivadores de algo mais.
* sobre assassinato, não importa de quem, no Bairro Paulo VI, sobre a falta de (in)formação acerca dos fatos. E também sobre a possibilidade de algo além da morte, nesta vida.
Laila, militante da frente de juventude da Brigadas Populares
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